sexta-feira, 30 de agosto de 2013

JESUS, O RABI CONTRA A LEGALIDADE DA RELIGIÃO OFICIAL

         
  É intrigante ler os dois casos relatados no evangelho de Marcos, onde Jesus cura um endemoninhado na sinagoga e uma mulher enferma em seu lar. O fato intrigante está em ser a sinagoga local de culto, instrução e oração a Deus, onde o evangelista registra a presença de um homem fora de si, dominado por espíritos imundos, cativo de seu próprio entendimento, dentro de um lugar onde teoricamente deveria estar liberto. O mesmo acontece com a cura da filha de Jairo, um importante líder do judaísmo, que recorre ao Nazareno como última opção para manter sua filha viva, mesmo sabendo que isso ia de encontro aos seus preceitos religiosos. Em contrapartida a Sogra de Pedro curada de uma febre que lhe impossibilitava de viver normalmente, é curada longe da religiosidade legalista do judaísmo, onde prontamente logo que lhe é restabelecida a saúde, a mesma passa a servi-los, mesmo que seja a mesa a refeição, não há uma atitude de alienação por parte dela e sim de devoção. O mesmo acontece com a mulher do fluxo de sangue, que gastara todo o seu dinheiro com a medicina, mas que nada adiantara a não ser lhe arrancar seus provimentos. Pobre, ainda enferma, excluída pelo rótulo religioso de impura, teve ousadia de enfrentar uma multidão e tocar Jesus de maneira diferenciada ao ponto de fazê-lo interromper sua caminhada em busca de quem lhe teria tocado entre tantos apertos pela multidão. Esse é mais um registro da ação de Jesus longe da religiosidade oficial, sem paredes ou mestres na Lei, apenas Jesus e os que ansiavam por liberdade.
            Porém isso não implica num rompimento de Jesus com a religião oficial, pelo contrário, Jesus ensinava na Sinagoga para ensinar nos sábados. Um paradoxo para os religiosos do século I na Palestina. Jesus de Nazaré cumpria a religião e seus rituais, mas também se metia com pobres, publicanos, prostitutas, “impuros”, dentre outros mais excluídos da sociedade judaica. Não é difícil imaginar a indignação dos Escribas e Fariseus como uma pessoa podia ser tão contrário à religião oficial e ao mesmo tempo utilizar dos mesmos espaços físicos religiosos para ensinar e em dia santo. O diferencial era que Jesus pregava de forma livre diante das exigências religiosas, pois elas impediam a prática da essência da vontade de Deus que era promover a vida em qualquer circunstância, além de valorizar em suas pregações o valor das ações em defesa da vida.
            A missão central de Jesus era cuidar do seu povo, começando pela saúde e reintegrando-os a convivência social. Era eliminar o que excluía os mais pobres em detrimento as minorias mais ricas. Escolheu a Galileia por se tratar de um lugar muito pobre onde o julgo romano custava mais por acentuar a pobreza do lugar. Daí Jesus de Nazaré ser um missionário itinerante, andava por várias localidades pregando a salvação vinda de Deus e curando os enfermos, operando milagres, convertendo as pessoas (no sentido de provocar mudança em suas vidas para a garantia coletiva da vida).
            Jesus não prioriza os mais importantes da sociedade judaica, e sim os marginalizados, isso se evidencia quando observamos a mulher do fluxo de sangue que consegue parar a caminhada de Jesus à casa de Jairo, onde teve que esperar o Nazareno curar a mulher religiosamente impura para depois continuar seu trajeto até a casa do líder religioso. Partindo da consciência de que o Reino de Deus já se faz na história, Jesus reintegra as pessoas oprimidas à sociedade tanto com o corpo saudável quanto com a mente sã. Jesus então pode ser denominado como o Profeta do Reino de Deus, onde Deus revela seu amor e seu cuidado em favor dos mais oprimidos, os mais sofridos. Jesus de Nazaré gradualmente se tornara um líder sociorreligioso popular, que agia em função de garantir a vida aos mais oprimidos, assim como ovelhas sem pastor, Jesus se tornara o mestre popular da Palestina pobre.

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